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Entenda os principais transtornos alimentares

Quem nunca teve uma relação um pouco problemática com a comida e certa preocupação com sua imagem corporal? Bem, os transtornos alimentares vão além disso! Os principais como anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar englobam dificuldades emocionais e consequências na saúde física significativas, por isso é tão importante entender e saber o que fazer quando estamos diante dessa situação.


As nossas compreensões sobre os transtornos psiquiátricos vão evoluindo e tomando diversas formas ao longo do tempo e não é diferente com os transtornos alimentares. O comportamento disfuncional relacionado à alimentação está na nossa história enquanto humanidade e vai tomando formas diferentes em cada época e cada cultura. Por exemplo, você sabia que a anorexia já foi relacionada a atos milagrosos de jejum em algumas épocas e, em outras, eram atos demonizados? Por isso, vale entendermos como esses transtornos alimentares aparecem hoje nas nossas vidas e na sociedade atual para sabermos como ajudar pessoas que sofrem por viverem essas condições.

Para entender melhor esse cenário vamos passar pelos seguintes pontos:

  • Relação com a comida.
  • Relação com o nosso corpo.
  • Os transtornos alimentares mais conhecidos.
  • O que fazer?

Relação com a comida

Ao longo da nossa história enquanto humanidade, os rituais referentes à alimentação vêm sofrendo mudanças. Você já percebeu que as refeições são mais solitárias hoje em dia? Muitas vezes, realizadas às pressas e de qualquer jeito, sem aquele tempo de sentar e comer com o grupo de pessoas com quem convivemos. Hoje, fazer as refeições em casa com a família, virou um evento, não mais um ato cotidiano. Estas mudanças trazem um adormecimento sobre nossas refeições, deixando-nos distantes do que estamos sentindo enquanto comemos e o significado daquela refeição para nós. Será que percebemos quantos sentimentos são expressos no nosso jeito de nos alimentarmos?

A comida é um dos nossos combustíveis, é um meio de transformar o externo em energia para nosso corpo se manter vivo. Para nós, humanos, ela também é um ato social e está inteiramente ligada às nossas emoções e como nos relacionamos com elas. Você já deve ter percebido que quando sente ansiedade relaciona-se de forma diferente com a comida, não é? E quando sente tristeza? E agora pense: e quando sente alegria? E raiva? Percebeu? Cada pessoa tem reações diferentes à alimentação de acordo com seus sentimentos, umas podem querer comer mais, outras não comem, outras ainda usam a alimentação como recompensa…

Vinculado aos nossos sentimentos, a forma com que nos relacionamos com a comida também é influenciada pela nossa história de vida e como aprendemos com nossos familiares o significado da alimentação. Para muitos, comida é afeto, para outros, é um prazer e para outros ainda um inimigo e tantos outros significados que podem surgir.

Entender como cada pessoa se relaciona com a comida é fundamental para compreender quem está passando por um transtorno alimentar!

Além disso, muitas vezes o significado da alimentação pode estar relacionado à nossa imagem corporal e como nos relacionamos com ela, por isso vamos para o nosso próximo ponto, a nossa relação com o nosso corpo.

Relação com o nosso corpo

É comum encontrarmos a manifestação do início dos transtornos alimentares na fase da adolescência. Nesta fase vivemos diversas transformações: os hormônios explodem e nosso corpo muda muito, passamos a nos relacionar com ele de uma forma diferente e, além disso, estamos construindo nossa identidade, nossa imagem, em meio a um turbilhão de emoções oscilantes e a busca por uma aceitação social.

Por todos estes motivos, nesta fase em que estamos buscando respostas sobre nós mesmos, podemos dar foco à nossa imagem externa e sermos influenciados pelo que nos é exigido pela mídia econômica e por nossas relações de referência. Uma adolescente muito exigente com ela mesma, por exemplo, é um terreno propício para buscar padrões externos a serem seguidos, assim como adolescentes excessivamente dependentes da imagem ideal que os pais esperam de si, também são.

É um momento delicado quanto à construção da autoestima, quando ser atraente para as pessoas passa a ser importante. E, dependendo do perfil psicológico da pessoa, suas dúvidas e questionamentos viram segredo, vira um assunto que quase ninguém expõe com os amigos, sendo, muitas vezes, alvo de bullying e consequentes distorções da realidade.

As mudanças físicas da adolescência também facilitam as distorções de imagem corporal. Quando o adolescente não se identifica com o seu novo corpo, pode facilmente ficar com uma percepção confusa sobre ele.

Além da distorção de imagem, pode acontecer a distorção sobre o que é saudável e o que é, na verdade, uma busca por um padrão de beleza reforçado por comparações, sejam presenciais ou virtuais. Estas distorções vêm sendo cada vez mais desmistificadas com o movimento corpo livre, chamando atenção aos preconceitos estruturais, mas ainda temos bastante caminho pela frente.

Passando a fase da adolescência, os transtornos alimentares podem ganhar força em algumas profissões nas quais encontra-se alto índice de pessoas com esses transtornos, principalmente aquelas que lidam com a imagem do corpo, ambientes com altas exigências, ansiedade, solidão, sofrimento e pensamentos solitários.

As distorções de imagem, a forma como nos relacionamos com o nosso corpo, com a alimentação e as exigências podem continuar ao longo da vida, por isto é tão importante buscarmos ajuda quando percebemos que isso pode estar acontecendo conosco ou com nossos filhos. Caso queira conversar com um profissional da Psicologia para entender se uma consulta psicológica pode ajudá-lo, clique aqui.

Bom, nos contextualizamos e já estamos pensando em como lidamos com a alimentação e como construiu-se a nossa imagem corporal. Então, localizados nestas duas áreas centrais para falarmos de transtornos alimentares, vamos entendê-los?

Os mais conhecidos transtornos alimentares

Os transtornos alimentares referem-se à uma disfunção na forma de se relacionar com a alimentação e, em alguns casos, com o peso e imagem corporal, causando prejuízos na vida da pessoa, seja sobre sua saúde física, seja sobre a saúde mental. Apesar da necessidade de novas pesquisas, não se fala somente de transtornos alimentares relacionados a mulheres, ampliando a discussão para além da categorização de sexos. São multicausais, isto quer dizer que existe a influência de componentes biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares e, portanto, perpassam diversas áreas de conhecimento, como a Medicina, a Psicologia e a Nutrição, por isto precisam ser compreendidos de forma complexa. Existem adoecimentos orgânicos que podem confundir-se com esses transtornos, o que demonstra a importância de uma avaliação cautelosa como em todos os transtornos psiquiátricos.

Quando a pessoa apresenta um transtorno alimentar geralmente acontecem prejuízos importantes na saúde como adoecimentos, desregulação bioquímica, afetando os neurotransmissores, as vitaminas essenciais para o funcionamento do nosso corpo, facilitando também processos de depressão e ansiedade, incluindo riscos graves que podem chegar a causar a morte.

Os transtornos alimentares mais conhecidos são: Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Transtorno de Compulsão Alimentar.

Vamos conhecer cada um deles?

Anorexia Nervosa

Este transtorno é bastante conhecido e você pode inclusive ver demonstrado no filme “Mínimo para viver” de 2017. Caracteriza-se por uma restrição na ingestão de alimentos, peso corporal abaixo do esperado para a idade, medo intenso de engordar e perturbação quanto à imagem corporal.

Para manter um peso abaixo do esperado, além de limitar significativamente a ingestão de alimentos com períodos de jejum, a pessoa geralmente manifesta algum comportamento purgativo ou compensatório como forma de perder mais calorias como exercícios físicos excessivos, vômitos voluntários, uso de laxantes, diuréticos ou moderadores de apetite.

Geralmente pessoas que apresentam este transtorno alimentar têm características psicológicas que envolvem o perfeccionismo, necessidade de controle, costumam ter excesso de atividades, rigidez de pensamento e ações, introversão e isolamento social, pensamentos obsessivos, preferência por cuidar dos outros ao invés de serem cuidadas. Muitas vezes, podem ter relações contraditórias com a comida, como paixão por cozinhar, servir outras pessoas, usar comida como enfeite ou para sentir o cheiro.

Bulimia Nervosa

A palavra bulimia tem origem nas palavras gregas boûs (boi), e limós (fome), o que nos ajuda a entender que as pessoas com esse transtorno apresentam “fome de boi”. Para entender melhor o que isso quer dizer, vamos às características principais deste transtorno: episódios recorrentes de compulsão alimentar com ingestão de grande quantidade de alimento em um curto espaço de tempo acompanhada da sensação de perda de controle; comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso, tais como os citados na anorexia nervosa; e autoavaliação influenciada pela excessiva preocupação com o peso ou forma corporal, medo exagerado em engordar, podendo apresentar distorção da imagem corporal.

Assim como a anorexia nervosa, a bulimia também apresenta um alto índice de mortalidade decorrente de parada cardíaca e tendências impulsivas que podem levar a vários comportamentos suicidas.

Geralmente, pessoas que apresentam este transtorno alimentar apresentam características psicológicas referentes à instabilidade de humor, impulsividade, baixa tolerância à frustração, dificuldade de lidar com limites e regras, sintomas depressivos, ansiedade e é comum sentirem culpa e vergonha.

O Transtorno de Compulsão Alimentar

O transtorno de compulsão alimentar caracteriza-se por episódios de ingestão de alimentos em quantidades maiores do que o esperado em um espaço curto de tempo, acompanhados de uma sensação de falta de controle. É importante avaliar que episódios espaçados e situacionais, como uma grande ingestão de comida em alguma ocasião social, por exemplo, não se configura como um transtorno, mas sim quando é um funcionamento recorrente da pessoa. Geralmente a pessoa come mais rápido, até se sentir desconfortavelmente cheio, grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome, comer sozinho por vergonha do quanto está comendo, sente-se deprimido ou culpado em seguida.

Geralmente, pessoas que apresentam este transtorno alimentar têm características psicológicas parecidas com as pessoas com bulimia, considerando o comportamento de ingestão compulsiva de alimentos, considerando, também, que este comportamento pode se estender para outros aspectos da sua vida.

Também existem os transtornos alimentares:

– Transtorno restritivo e evitativo: caracteriza-se, principalmente, pela esquiva ou restrição da ingestão alimentar, ocasionando dificuldade de obtenção nutricional, levando a peso inadequado e outras consequências a partir desse déficit nutricional.

– Pica ou alotriofagia: caracteriza-se pela ingestão de substâncias sem conteúdo nutricional de forma persistente por pelo menos um mês. As substâncias ingeridas costumam variar com a idade e disponibilidade e podem ser as mais diversas.

– Transtorno de ruminação: caracteriza-se pela regurgitação do alimento depois de ingerido repetidamente.

O que fazer?

Quando acompanhados no início do surgimento, é recomendado cuidados clínicos com diversos profissionais, porém, caso esteja em um estado mais avançado pode ser necessário internação para cuidados extremos.

Lembra que conversamos que é uma composição biológica, sociocultural e psicológica? Portanto, requer acompanhamento multiprofissional como médico (especialidades como psiquiatra e endocrinologista), nutricionista e psicólogo.

Então o primeiro passo é a busca de ajuda desses profissionais.

O perfil psicológico das pessoas com transtornos alimentares tem características que vão além da relação com a alimentação e o corpo, envolvem o jeito de estar na vida, por isso, o acompanhamento psicológico é imprescindível nestes casos. Vou deixar algumas reflexões importantes para que você possa começar a se perceber:

– Compreensão da sua vida, do contexto e das suas relações: quanto mais consciência temos do que nos influencia, mais podemos agir sobre, por isso, entender quais são as exigências externas que absorvemos, nos fazem reconhecer como podemos estar seguindo um referencial que não é o nosso, sem consciência e crítica.

– Relações interpessoais: as relações que mantemos são importantes para construirmos um novo estilo de vida e lidarmos com nossas dificuldades: são relações que te valorizam? Que buscam uma vida flexível? Que se relacionam consigo mesmas do jeito que são, que lidam com as imperfeições? Relações que nos alimentam a partir do que estamos nos desenvolvendo são fundamentais na nossa caminhada!

– Relação consigo mesmo: o transtorno alimentar conversa com nossas exigências e ansiedades perante a vida, então o processo de aceitação é um caminho amplo, que vai desde a aceitação da estrutura do seu corpo, o seu metabolismo (autoconhecimento corporal) à uma percepção do que nos auto cobramos e auto exigimos, além de entender sobre o que nossa ansiedade e tristeza fala: o que não está te fazendo bem? O transtorno alimentar pode ser a ponta do iceberg de um jeito de lidar com você mesmo e com a realidade. Como você tem lidado com suas imperfeições? Como estão suas realizações?

Estas são algumas das muitas reflexões importantes quando se trata de transtornos alimentares. Não hesite em buscar ajuda. Consultas psicológicas podem ajudá-lo neste processo. Se quiser conversar com uma das nossas profissionais para entender se de fato faz sentido esse tipo de ajuda para você, clique aqui.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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