Sinto-me triste. O que faço?
Nós percebemos logo quando estamos tristes, sentimos um aperto do peito, um nó na garganta, os olhos ficam marejados, mas compreender o que está acontecendo que nos deixa tristes já não é tão fácil de perceber. Culturalmente, somos inibidos a entrar em contato com os sentimentos, principalmente, sentimentos considerados desagradáveis como a tristeza. E demonstrar, então, nem se fala! Assim, ignoramos, engolimos, nos distraímos, colocamos nossas máscaras de festa e seguimos. Mas até quando? Até o reservatório transbordar e começar a escorrer em forma de lágrimas, essas não podem ser escondidas ou ignoradas.
Estar feliz, ou melhor, parecer feliz o tempo todo tornou-se uma regra social. Mas essa pode ser uma visão distorcida do que é ser uma pessoa de verdade, e tem seu custo. Ignorar os sentimentos é um risco para nossa saúde mental, pois os sentimentos não somem ou desaparecem com o tempo, ficam acumulando em nós mesmos, criando tensões e uma hora o sistema pode explodir em sobrecarga.
Para cuidarmos de nossa saúde mental e desenvolvermos nossa inteligência emocional, é preciso acolher os sentimentos como parte de nós e conviver com eles. Aos poucos podemos descobrir que eles são a bússola precisa para navegarmos no mar da vida. Eles dizem muito sobre o que está acontecendo na relação com as outras pessoas, com o ambiente em que vivemos, com as escolhas que fazemos, são valiosas informações!
E o que é tristeza?
A tristeza pode ser entendida como o sentimento do vazio, da falta, da perda, da solidão, da desilusão. Mas, em relação a que? Talvez por não conseguir pagar as contas do mês, perder uma pessoa querida, não conseguir fazer algo que desejava, entre tantas outras possibilidades.
Você deve estar pensando: "Ok, mas nem sempre sei porque estou triste. Algumas vezes, simplesmente, me sinto assim e parece não haver motivo". Bem, algumas vezes os motivos não são mesmo percebidos, por não serem objetivos, isso acontece quando o que nos deixa tristes é uma lembrança do passado ou quando o motivo está nas entrelinhas de tantos outros acontecimentos significativos de nossas vidas. Por isso é tão importante não ignorar os sentimentos. Quando conseguimos compreendê-los, antes que afundem em um pântano dos sentimentos fantasmas, eles podem nos ajudar em nosso caminho de autoconhecimento.
Uma questão importante, que muitas vezes ignoramos, é que as vivências, as palavras, entre outros estímulos, provocam efeitos variados em nós. Tudo depende de como os significamos e como os avaliamos. E isso tem direta relação com a forma como construímos nosso mundo interno, nossos valores e nosso jeito de ser. Mas, geralmente, precisamos de um longo trabalho de autoconhecimento para percebermos quem somos e como nos formamos nessa direção.
Bem, até aqui podemos perceber que se sentir triste não é, necessariamente, um problema. Mas pode vir a ser quando deixa de ser referente a um episódio específico e vem com as malas para ficar. Aí tudo muda!
Existem diferenças e um caminho entre a tristeza e a depressão, a primeira é um sentimento e a segunda um complexo de sinais nos falando que todo o organismo está profundamente triste e não está conseguindo mudar sozinho, sente-se como se estivesse acorrentado. A tristeza quando não é compreendida e reacomodada com novo significado, pode gradualmente somar-se a outros sentimentos e vivências que juntos vão compondo um quadro depressivo. Isto quer dizer que muitos quadros depressivos podem ser evitados. Vou contar como!
Como prevenir a depressão?
Bem, a melhor forma de prevenir a depressão é entrar em contato com seus sentimentos, e quando o sentimento for a tristeza, você pode recorrer a algum destes conhecimentos e alternativas:
- Busque observar-se quando estiver triste, queira saber o que acontece em você, o que esta tristeza significa, como ela é.
- Bem, permitir-se sentir não quer dizer que você precise ficar mergulhado na tristeza apenas sentindo. O contato com a tristeza precisa vir acompanhado de compreensão. Ao perceber o que ela tem a dizer, você se sentirá mais apto a continuar sua jornada.
- A tristeza também impacta a dinâmica química do nosso organismo. Tanto a produção de neurotransmissores, quanto a defesa imunológica são afetados pelo sentimento de tristeza. Assim como alterações químicas no nosso organismo também podem gerar sentimento de tristeza. Então, tanto a tristeza realmente pode adoecer quanto pode ser um produto de um adoecimento físico.
Mas quando transformamos o conhecimento do processo da tristeza em recursos para nosso desenvolvimento e autocompreensão, sentimo-nos mais fortes e aptos para viver. E isso também impacta nosso corpo, mas, desta vez, o fortalece.
- Bem, depois de olhar para a tristeza de forma acolhedora e curiosa sobre o que ela está nos dizendo, é hora de usar mais alguns recursos de nossa caixa de ferramentas: vamos começar pelo apoio social. Você sabe por que é importante? Ao conversar com pessoas em quem confiamos também nos ouvimos, e ao sermos ouvidos sem julgamentos, nossa tensão diminui e conseguimos pensar e sentir com mais clareza.
- E a atividade física? Bem, esta dica é bastante divulgada, mas você sabe por que é tão importante? Ao nos exercitarmos neutralizamos grande parte dos efeitos nocivos da noradrenalina, um dos hormônios de estresse. Assim, nossos músculos deixam de estar tão tensionados, melhora a distribuição sanguínea, melhora a oxigenação, distribuição de nutrientes e a eliminação de radicais livres. E ainda produzimos analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos naturalmente. Você sabia disso? Isso graças a produção de endorfinas estimulada pela atividade física. Agora você vai pensar com mais carinho nesta questão, não é?
- E a alimentação? Períodos de grande demanda emocional fazem com que nosso organismo gaste as reservas nutricionais de forma acelerada, por isso é tão importante a alimentação equilibrada na recuperação. Inclusive, muitos médicos antes de começar um tratamento medicamentoso solicitam exames para dosagem de nutrientes e hormônios que impactam em nosso humor.
- E quando é hora de procurar ajuda especializada?
Bem, quando o alarme vermelho soar, fique atento com a permanência dos seguintes sinais que podem indicar que já não é um momento de tristeza passageiro:
- cansaço fácil e intenso,
- alterações do sono,
- sentimentos de desamparo, culpa, inutilidade,
- pensamentos recorrentes,
- falta de esperança,
- medo e tristeza profundos,
- dores de cabeça e no corpo em geral;
- perder o interesse por coisas das quais gostava,
- alterações no apetite, seja aumentado ou diminuído,
- pensar em morrer,
- dificuldades com a memória e atenção.
Os agravos acima apontam que já não é só tristeza, mas sua saúde mental pode estar abalada. Busque ajuda! Se ao ler você lembrou de uma pessoa querida, compartilhe este artigo e ajude-a a perceber que isso não é só tristeza, que pode ser tratado e ter sua vida de volta. Uma consulta psicológica pode ajudar muito neste momento.
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Kátia Lerner Macagnan
Psicóloga
CRP 12/12436
(48) 99642-9889