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O que a fala autêntica comunica?

De tudo que verbalizamos, o quanto realmente nos permitimos entrar em contato? Quantos são os ruídos sem sentido? Muito passa despercebido ou tão intimamente percebido que precisa ser negado. O quanto achamos que somos, ou deveríamos ser, ao lermos os olhares, gestos, falas das pessoas importantes em nossas vidas? O quanto nos permitimos questionar a vivência presente e o que ela diz de nós?

Eu estava relendo o livro “O resgate da fala autêntica”, de Mauro Amatuzzi, e tudo parecia novo, os significados saltavam aos olhos. Eles já estavam lá, mas como não os tinha percebido da primeira vez que li? A sensação era de encontrar algo que já estava elaborado de certa forma, mas desta vez foi integrado em outra perspectiva. Posso dizer que desencadeou uma atualização em mim. Isso me fez desejar compartilhar com vocês um pouco sobre como a fala autêntica pode nos libertar de uma vida de ecos, reflexos ou repetições de falas que nunca nos representaram ou que não nos representam mais.

Como reconhecer se a comunicação é baseada nos sentimentos?

Bem, você já se surpreendeu ao estar em um ambiente acolhedor e seguro, de uma aceitação genuína e sem julgamentos? E sentiu que seus sentimentos foram mais fundo e de repente reconhece algo que estava lá, mas que ao mesmo tempo é sentido como novo? Ou por outro lado, olhando pela negação, por exemplo: perceber que estava com raiva de seu irmão mais novo, mas ao mesmo tempo sente que isso não condiz com a imagem que tem de si mesma, que uma boa irmã não pode sentir isso! Ou uma boa filha, filho, amigo, mãe, não pode sentir desta forma. Esta dificuldade de perceber algo diferente do que acreditamos serem nossas “definições”, nossa imagem idealizada, nos distancia do processo contínuo de atualização. Porém, muito provavelmente, se conseguirmos mergulhar, reconhecer: sim eu estou com raiva, pois … Provavelmente a raiva tomará outro tom e abrirá espaço para algo mais profundo sobre nós mesmos, onde podemos assumir o que sentimos e o que escolhemos fazer com isso.

Da comunicação de conceitos à comunicação da experiência.

Nós somos atraídos a nos desenvolver constantemente, a realizar o que somos em potencial. E quando nos movemos nesta direção sentimos que estamos vivos e vale a pena viver. Mas se este processo é freado ou bloqueado, no lugar da realização nos perdemos em um vazio e podemos passar a viver como alguém estranho a nós mesmos, subjugados em nossa própria vida, em um estado de paralisia emocional. Podemos sentir que algo está errado, mas o quê? Sentimos angústia, perplexidade, muitas vezes estamos desorientados em um mundo de caos. Nestes momentos, podemos procurar ajuda para voltarmos a ser processo e não conceito. Mesmo sem saber exatamente o que queremos ou procuramos, buscamos amenizar os efeitos de estarmos ausentes de nossas vidas, sofrimento que pode se manifestar entre outras formas, como um processo ansioso ou depressivo. Esta ajuda normalmente acontece em um processo psicoterapêutico, nele buscamos o resgate de nossa fala autêntica. Esta expressão nos aproxima da tomada de consciência da experiência vivida.

exploradores de nós mesmos

Quando nos prendemos em um conceito fechado de nós mesmos, sentimo-nos ameaçados por tudo que contradiz esta autoimagem ou o que pensamos que devemos ser. Assim, nos desconectamos da experiência viva para depararmo-nos com uma caricatura. Mas por outro lado, ao sentirmo-nos seguros ao explorar melhor o que surge em nós, podemos perceber que não seremos destruídos por incongruências encontradas, mas podemos nos abrir para a experiência, com toda a sua novidade, e flexibilizar nossos conceitos e opiniões sobre nós e, consequentemente, sobre o mundo.

Qual a fala que nos representa?

Estar em uma vida realizadora, ou não, apresenta-se em nosso falar, pois existe uma presença além do dito que faz parte do que é comunicado e amplia os significados. E o mais interessante é que, na busca pela exatidão do que sentimos, nos liberamos para caminhar em direção ao crescimento e integração. Quando buscamos este comunicar-se a partir do vivido do presente procuramos as palavras mais próximas, mais expressivas, não serve qualquer palavra, precisa ser aquela, que ironicamente ainda não sabemos qual é, mas quando ela for dita a reconhecemos: “é isso que sinto!”. Nisto nos afastamos de frases automáticas, de representar papéis, pois neste momento buscamos entrar em contato com o que está vivo em nós e isso é transformador!

Neste processo sinto que passo a ser onde não era, pois como somos processo direcionado para a atualização constante, ainda não somos tudo que podemos ser até que o processo da vida se encerre, e este processo de crescimento é alimentado pelo todo integrado da experiência, consciência e comunicação, assim, sou e ajo; mas quando estes aspectos estão desencontrados, não sou, reajo a partir de parâmetros estranhos a mim. Assim, passar a ser onde não era, é encontrar a referência pessoal e singular como parâmetro para o agir.

Nós temos uma bússola existencial

nossa bússola interna

O sentimento funciona como uma bússola, ele aponta para algo, é a chave para chegarmos a um significado mais profundo. Quando acessado, um fluxo de experiências pode ocorrer, algo é libertado e atualiza o todo que somos. Sabe, quando dizemos superficialmente que está tudo bem, mas na medida que encontramos espaço para desacelerar e prestar atenção em que acontece em nós, passamos a perceber questões realmente representativas do que sentimos naquele momento e a comunicação pode mudar de nível, e assim transformar como passamos a nos perceber. Desta forma, ocorre uma reorganização e, muitas vezes, surpreendemo-nos em ver o novo no mesmo. Como a música “Por enquanto”, da Legião Urbana:

“Mudaram as estações, nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim, tão diferente”.

Então, a fala autêntica é a que apresenta e efetiva o ser, ela não informa sobre algo, ela carrega a pessoa por inteiro.

A liberdade para ser autêntico pode estar escondida pelas camadas feitas a partir de uma leitura de mundo fixa, uma vida regida por “verdades” dadas por outros que assumimos como nossas no decorrer do tempo, mas no momento em que descobrimos a possibilidade da experiência pessoal, nossa comunicação passa a crescer em autenticidade, descobrimos presente no ato de comunicar-nos a possibilidade da escolha e criação.

O potencial da fala autêntica

A fala autêntica abre um fluxo de integração interna, que se relaciona e significa no agora: a experiência, a consciência e a comunicação são integradas. Este jeito de ser também nos habilita a enxergar o mundo com mais realidade, com menos distorções. Onde a adaptação às mudanças e desafios tornam-se parte do processo. Podemos estar sempre nos tornando pessoas mais reais e aprendendo a comunicarmo-nos! Nada está acabado e definitivo, a história continua! Qual vai ser a sua? Se quiser companhia nesta jornada estamos aqui!

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