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Como identificar comportamentos suicidas? Todos podem salvar vidas

É setembro, mês da chegada da primavera, do renascer após o inverno. Mas por que este mês se tornou um período de esforços coletivos na conscientização do valor da vida e prevenção do suicídio? Por que a cor amarela? Como nós podemos identificar sinais de risco? E o que realmente pode ajudar a prevenir? Bem, gostaria de pensar sobre isso tudo com vocês!

Por que setembro amarelo?

Essa campanha que tem salvo tantas vidas nasceu de uma homenagem de amigos e familiares durante o funeral de Michael Emme. Ele era um jovem apaixonado por carros, principalmente por seu carro amarelo. Em retrospectiva, houve a verificação de sinais depressivos em Mike, porém não foram diagnosticados ou tratados na época. E, infelizmente, ele desistiu de viver em setembro de 1994.

Diante da perplexidade e da dor frente à morte de Mike familiares e amigos confeccionaram e disponibilizaram em torno de 500 cartões em sua memória, com uma fita amarela e com a mensagem: “se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”. Em alguns dias os pais de Mike começaram a atender ligações de pessoas que receberam os cartões com pedido de ajuda, mas que não sabiam o que fazer.

Assim começou este movimento! Uma forma de facilitar o pedido de ajuda de quem está sofrendo e a capacitação de pessoas disponíveis para o acolhimento.

O movimento foi crescendo e, em 2003, a Organização Mundial da Saúde – OMS instituiu o dia 10 de setembro como dia mundial de prevenção ao suicídio e escolheu o amarelo para representar a campanha. No Brasil, em 2014, a campanha foi ampliada para todo o mês de setembro, promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM e também promovida pelo Centro de Valorização à Vida – CVV.

Por que o suicídio é uma questão de saúde pública?

A estimativa da OMS é de que acontece um suicídio a cada 40 segundos, 800.000 mortes por ano no mundo. Estima-se também que para cada suicídio ocorram outras 25 tentativas. E estas pessoas tinham família, amigos, colegas, grupo social. Você consegue imaginar quantas pessoas sofrem e são impactadas pelo suicídio?

ações juntos

Precisamos falar sobre e desenvolver ações de prevenção e posvenção!

Fatores de risco e sinais de alerta

O primeiro recurso para ajudarmos alguém é a escuta empática! Ela é capaz de abrir espaço para que outros recursos de saúde sejam apresentados em sequência ao acolhimento inicial. Assim, depois de ouvidos de coração aberto, a próxima atitude a ser tomada é ficar atentos a possíveis sinais. Aqui estão algumas informações sobre fatores de risco e sinais de alerta que podem ajudar.

A ABP disponibiliza vários materiais para a campanha setembro amarelo e vale a pena acessar e divulgar. Um deles é o folder “Combater o estigma é salvar vidas” que nos ajuda a refletir sobre a prevenção do suicídio através da percepção dos fatores de risco e sinais de alerta. São eles:

  • – Sofrer com transtornos mentais,como por exemplo: depressão, uso de álcool e drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia.
  • – Mais de 90% dos dos casos de suicídio estão ligados a algum transtorno mental não tratado ou não identificado.
  • – Histórico pessoal de tentativas prévias.
  • – Ideação Suicida. Fique atento a expressões de desesperança, desespero e desamparo.
  • – Fatores estressores crônicos e recentes.
  • – Organizar detalhes e fazer despedidas.
  • – Meios acessíveis para suicidar-se.
  • – Impulsividade.
  • – Eventos adversos na infância e adolescência.
  • – Motivos aparentes ou ocultos.
  • – Presença de outras doenças.

Desesperança tira a capacidade de olhar para o futuro, de ter expectativas positivas quanto a possibilidades e resoluções de questões, deteriora o elo que nos faz sentir que, seja como for, vale a pena viver.

E como seguem os sobreviventes?

Quando se fala que mais de 90% dos casos poderiam ser prevenidos, isto quer dizer que existem recursos que poderiam ajudar a encontrar outro desfecho para tantas vidas. Mas quando pais e amigos, os sobreviventes, escutam esta mensagem sofrem por pensarem que poderiam ter feito mais. Sentem-se culpados, ou tentam responsabilizar alguém, é simplesmente doloroso demais passar por esta situação.

Como existe um emaranhado de variáveis que levam a pessoa ao rompimento com a vida, restaurar este potencial também é multifatorial. Não foi uma palavra, não foi uma ausência, uma doença, foram muitas coisas. Definitivamente não há culpados!

não há culpados

É importante que busquemos ajuda para prosseguir! Chamamos de posvenção, ou apoio aos sobreviventes enlutados pelo suicídio, o trabalho específico realizado com foco na pessoa que sofre neste lugar. É importante ter um espaço adequado para se elaborar o luto.

Este difícil processo pode ser facilitado por amigos e familiares, grupos de apoio, sendo indispensável, na maioria das vezes, a ajuda de um psicólogo.

A dor compartilhada pode doer menos e a relação terapêutica pode nos ajudar a navegar em mares menos tempestuosos.

Como ajudar?

E como ajudar alguém que está cansado da vida, que não encontra mais razão para viver?

Bem, aqui podemos pensar no acolhimento pessoal e consulta psicológica. Os dois são importantes, e certamente muitas pessoas encontram motivação em procurar um psicólogo exatamente porque tiveram um momento de acolhimento e escuta ativa como o do Centro de Valorização a Vida. O CVV faz um acolhimento voluntário e, embora não seja o mesmo trabalho de um psicólogo, é uma escuta inicial muito importante em diversas circunstâncias.

Assim, antes de tudo, acolha! Isto pode ajudar a minimizar a angústia do momento, sem deixar a perspectiva da consciência de que é preciso desenvolver recursos para que se possa estar na vida de outro jeito. Aqui entra o profissional de saúde mental que poderá ajudar de forma mais efetiva e profunda.

Algumas vezes a pessoa que sofre pede ajuda, outras não, então pergunte “como você está”, “quer conversar?”, “sabe que estou aqui se precisar de mim”. Fale novamente, ou deixe claro que está presente. As vezes precisamos de mais tempo para ter coragem de mexer em feridas abertas, seja paciente também para o momento em que a pessoa possa falar.

estar presente

Ao ouvir e se comunicar, esteja presente, mantenha seu foco nos sentimentos, seja respeitoso, mesmo que não entenda, não concorde, apenas permita-se estar com o outro onde ele está.

A cartilha Prevenção do suicídio, da OMS resume de forma muito simples esta facilitação da comunicação:

  • – ouça com cordialidade;
  • – trate com respeito;
  • – empatia com as emoções;
  • – cuidado com o sigilo.

E lembre-se: A melhor maneira de descobrir se uma pessoa tem pensamentos sobre suicídio é perguntar para ela.

Caso alguém compartilhe seus pensamentos sobre suicídio, busque ajudá-lo a procurar apoio, a vida pode ser ressignificada, os problemas serem vistos por outra perspectiva. Queremos que mais pessoas possam estar disponíveis e dizer: “É possível renascer depois do inverno da dor. Você não está sozinho, vou te ajudar a buscar ajuda!”.

São vários os níveis de ajuda e recursos de saúde necessários, mas sempre é preciso um primeiro passo para começar um processo de mudança.

Todos somos necessários neste movimento de apoio e resgate, mas é importantíssimo o encaminhamento para profissionais de saúde como o psicólogo e o médico. É difícil apresentar aqui de uma forma ampla o que acontece com o mundo subjetivo de quem sofre a este nível, mas podemos mergulhar um pouco mais nessa experiência com o livro “Histórias de sobreviventes do suicídio”, nele encontramos relatos de quem chegou ao desespero de tentar acabar com tudo e hoje agradece por estar vivo e a narrativa de familiares, amigos e psicólogos quanto à dor do luto deixada pelo suicídio. Assim, convido você a ler um pequeno recorte do relato autobiográfico de Carla Hidalgo em forma de conto: “Fica, vai ter bolo!”. Ela fala da dificuldade de reconhecer o que sentia, o bolo ácido de coisas indigestas que um dia explodiram dentro dela:

Doze anos parece tempo suficiente para superar o trauma. Porém, o fato de quase ter perdido a vida talvez não seja algo que se enquadre na questão de superar ou não. Talvez fique para sempre na lista de coisas a serem entendidas – por mim e por todos. Quase perdi, quase entreguei a minha vida. Hoje estou aqui, com pinos, cicatrizes e algumas sequelas, mas tudo bem, ou melhor, tudo ótimo, pois estou aqui!….

vai ter bolo

Aprendi a dar nome aos sentimentos, aprendi a identificar alegrias, tristezas, conquistas e frustrações e, assim, tenho o ácido certinho para digeri-los da melhor forma e, assim, não acumular mais nada sem nome dentro de mim. Dentro dessa menina de 24 anos, só sentimentos identificados, seja bom ou seja ruim, pois só assim consigo digerir e viver de uma forma leve e orientada. Bolo? Só de chocolate.

Afinal, a explosão só transforma as coisas em pedacinhos que de nada servem, muito menos para resolver alguma coisa. Sumir do mundo também não resolve, você não vai voltar para curtir as coisas boas que ficaram. Você não vai voltar. Então não vá, fique aqui, vai ter bolo!

Carla sobreviveu a sua tentativa de partir, mas o que trouxe a vida foi o movimento ao encontro de si mesma, de significar, juntar pedaços. Mas ela buscou ajuda, fez seu processo terapêutico e hoje sente-se realmente viva.

Espero que estas palavras possam ser úteis para você, mas saiba que estamos aqui para ajudar!

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