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Quando procurar um Atendimento Psicológico Infantil?

Criança não vem com manual. Essa é uma das frases que escutamos dos pais que, muitas vezes, sentem-se perdidos com o sofrimento dos pequenos que acompanham. Mas quando é a hora de buscar Atendimento Psicológico Infantil? E como esse atendimento pode ajudar seu filho? Vamos te ajudar a entender.

Quando a criança nasce é uma caixinha de surpresa! De algum modo essa pergunta paira no ar: “quem será essa pessoa e quem serei eu enquanto responsável por ela?”

Ao longo do caminho de construção dessas identidades muitas emoções surgirão na relação entre pais e filhos. Nem sempre vamos saber o que fazer com elas, nem mesmo como ajudar a criança a lidar com seus sentimentos e dificuldades. É nestas horas que podemos buscar um Atendimento Psicológico Infantil.

Como perceber quando a criança precisa de ajuda?

As pessoas são singulares por si só, quando falamos de crianças, então, é um mundo de possibilidades! Afinal, cada idade tem suas características, com seus limites e desafios.

Porém, apesar de não estudarmos sobre desenvolvimento humano na escola, todos nós somos sensíveis aos nossos sentimentos e percepções e aos das crianças. O que isto quer dizer? Que os pais reconhecem quando algo não está fluindo no desenvolvimento da sua criança! Eles podem não conseguir identificar o que está acontecendo, mas sentem que algo acontece. Além disso, a criança também expressa esse desacordo interno de diversas formas:

  • – agressividade,
  • – agitação incomum,
  • – irritação constante,
  • – medos incapacitantes,
  • – dificuldades sociais e de comunicação…
dificuldades no desenvolvimento

São muitos os exemplos de sinais de alerta de que algo não está bem. Mas não esqueça: o maior guia é o sentimento dos pais de que o desenvolvimento da criança não está fluindo em alguma área.

A procura para ajuda psicológica nem sempre é fácil. Existe aquele paradigma antigo: “é só uma fase, espere passar!”. Muitas vezes pode ser uma fase difícil que a criança esteja passando mesmo, mas por que não ter ajuda para viver e encontrar seus recursos de superação?

Além disso, costuma-se procurar algum culpado para a dificuldade das crianças, e adivinhem para quem sobra? Para os pais, justo aqueles que estão no mesmo barco se esforçando para desenvolverem-se como pais junto com essa criança. Isso faz com que muitas vezes possa ser doloroso e ameaçador buscar ajuda, pois para muitos pode significar que não deram conta de cuidar dos seus filhos. Esse mito machuca e pode retardar o processo de ajuda.

Todos estão juntos nessa empreitada chamada vida e, pela primeira vez, como um grande esboço, como diria Milan Kundera:

“Não há de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado.” (A insustentável leveza do ser, 1982)

Nessa grande peça chamada vida, estamos aprendendo a cuidar e facilitar o desenvolvimento das nossas crianças. E, saibam, o desenvolvimento infantil é um todo complexo! Envolve diversos conhecimentos para chegar à compreensão do que pode estar dificultando para que aconteça de forma espontânea.

O desenvolvimento infantil é um todo complexo

Para entender a dimensão da compreensão necessária para reconhecer qual ajuda a criança está precisando, um psicólogo mergulha em um mundo de conhecimentos sobre os processos humanos:

– O processo de brincar;

– As fases da infância;

– As áreas do desenvolvimento infantil;

– Processo de construção de vínculos e a relação terapêutica;

– Processos de luto;

– Dinâmica familiar e contextos sociais;

– Compreensão dos processos de aprendizagem e suas dificuldades;

– Condições neuropsicológicas.

Ufa! E dentro de cada uma dessas áreas de estudo ainda existe uma vastidão de especificidades.

Pois é, são diversas questões a serem consideradas durante um atendimento para reconhecer qual o processo de ajuda que essa criança precisa. Seria demais exigir que os pais dessem conta de saber e, ainda, ao mesmo tempo em que estão afetivamente vivendo junto com a criança todos esses processos, não é mesmo?

É por isso que existem profissionais especializados para nos ajudar quando encontramos algum entrave no desenvolvimento dos nossos filhos.

Um lugar seguro: o que é o atendimento psicológico infantil?

O atendimento psicológico infantil na Abordagem Centrada na Pessoa é singular e têm algumas características importantes. Para começar vamos entender um pouco sobre essa abordagem.

A ACP é uma abordagem psicológica desenvolvida pelo psicólogo Carl Rogers. É uma abordagem humanista que considera que a pessoa tem vastos recursos para se autocompreender e para se desenvolver, traz a quebra de paradigma do psicólogo como detentor de conhecimento, considerando que o que importa é o processo de cada pessoa e o que ela percebe e compreende sobre ela mesma.

Agora você pode estar se perguntando por que citamos tantos conhecimentos necessários ao psicólogo anteriormente e agora estamos dizendo que o psicólogo dessa abordagem não está no lugar de saber? Pode parecer confuso, mas é isso mesmo, aquele conhecimento todo serve para orientar tudo que precisamos conhecer enquanto psicólogos de crianças para oferecer a elas e a seus pais o serviço adequado. Isso quer dizer que tudo que fazemos tem um grande fundamento científico, mas, quando estamos com uma pessoa, somos apenas outra pessoa reconhecendo que ela sabe mais sobre si mesma do que nós.

Entenda melhor com alguns pontos fundamentais da ACP:

Confia na tendência do indivíduo em direção ao crescimento, saúde e adaptação.

Portanto, a psicoterapia é uma maneira de liberar o cliente para o crescimento e ajustamento.

Durante o processo psicoterapêutico, enfatiza mais os aspectos afetivos da situação que os aspectos intelectuais, e a situação imediata é o foco central, mais que o passado do indivíduo.

E para fechar, considera o relacionamento terapêutico em si mesmo como uma experiência de crescimento.

liberdade para sentir e crescer

É com essa base de compreensão do ser humano e do processo de ajuda que reconhecemos que a criança tem os recursos para promover seu autodesenvolvimento. Confiamos na sua capacidade de compreender suas emoções, gerenciá-las, usar sua percepção para lidar com a realidade e com as relações e, assim, seguir o fluxo de aprendizagem contínua.

Por isso, a criança vai encontrar um lugar em que desenvolverá uma relação genuína, que confia no seu potencial para lidar com a sua realidade, considera sua expressão de sentimentos sem preocupar-se com rótulos, aprovação ou desaprovação e, ainda, é compreendida como uma pessoa digna de confiança.

Os pais serão recebidos com esse mesmo clima facilitador, para expressarem tudo que percebem e sentem na relação com a sua criança, ampliando seus recursos de ação e saídas para ajudarem-na no seu desenvolvimento conforme a sua realidade.

Percebam, o foco desse processo está na construção de uma relação genuína, que nada espera da criança além de facilitar para que seja cada vez mais ela mesma.

Como funciona na prática?

Para compreender como funciona na prática, vale reforçarmos seu objetivo:

“Ajudá-la (a criança) gradualmente a ser ela mesma e fazer uso criativo, com responsabilidade, de suas capacidades e habilidades.” (Moustakas, 1959 – tradução livre)

Isso quer dizer que, junto com a família, facilitamos esse processo de ajudar a criança a fluir no seu desenvolvimento, sendo ela mesma através de três elementos importantes:

A liberdade de expressão dos seus sentimentos;

Sendo também responsável na construção da relação terapêutica;

Através do reconhecimento dos limites reais.

Uma das maiores dúvidas é: e como se faz tudo isso? Brincando!

O processo de desenvolvimento cognitivo durante a infância tem várias etapas de amadurecimento, o que nos leva a perceber que sua expressão e compreensão cognitiva não estão no seu auge. Por isso, essa não é a via de expressão de si mais confortável.

o brincar e seus significados

A criança expressa suas emoções e toda sua organização (ou desorganização) interna através do brincar. Suas brincadeiras são cheias de si e dos seus significados. Ao brincar livremente a criança pode expor tudo o que sente e como está organizando a sua realidade vivida.

Assim, um psicólogo não brinca apenas com a criança, mas vive a experiência desse brincar junto com ela e com todos os significados e sentimentos envolvidos. Possibilitando a livre expressão de si mesma, a ampliação da sua percepção sobre si e sobre os recursos criativos que possui para enfrentar as situações que experiencia.

Isso não quer dizer que as crianças não se arriscam e também usam o recurso da linguagem falada, mas sabemos que a expressão mais significativa será por meio do brincar.

Quais as etapas do processo do Atendimento Psicológico Infantil realizado pelo Espaço Viver?

Procura e agendamento: os pais podem entrar em contato pelo meio que se sentirem mais confortáveis e a psicóloga institucional os receberá tirando todas as dúvidas e ajudando a encontrar qual a ajuda que procuram.

Entrevistas iniciais com os pais: as primeiras consultas são com os pais da criança para que sejam compreendidos nas suas preocupações. Ampliando assim suas próprias percepções sobre sua criança.

Atendimentos iniciais com a criança: a criança será recebida para o estabelecimento da relação terapêutica e ser compreendida, seu jeito de ser, suas emoções, suas relações, além da observação do desenvolvimento global, através da livre expressão lúdica, ou seja, tudo isso brincando livremente.

Devolutiva para os pais: apresentação das observações e da compreensão da demanda trazida. Através dessa compreensão acontecem os encaminhamentos necessários e início de orientação a pais. Caso seja estabelecida a necessidade de continuar o processo, acontece a seguinte dinâmica: encontros de ludoterapia com a crianças e consultas de devolutivas e orientações aos pais conforme o processo se desenvolve.

Encaminhamentos necessários: se for preciso, podem ser feitos encaminhamentos para outros serviços que envolvem o cuidado com a criança como avaliações neuropsicológica, psicopedagógica, do desenvolvimento global (em caso de suspeita de autismo, por exemplo), ou, ainda, orientação a pais. Além do encaminhamento para outros profissionais, se for o caso, como médicos e fonoaudiólogos, por exemplo.

Contato com outros profissionais que a acompanham é realizado sempre que necessário para ajudar o desenvolvimento da criança.

respeitar as crianças

Para fechar, podemos expressar o trabalho no atendimento psicológico infantil da seguinte forma:

“Ela respeita a criança, sua capacidade de manter-se sobre seus próprios pés e de tornar-se um indivíduo mais maduro, independente, se lhe é dada uma oportunidade para isso.”

(Virgínia Axline, 1947)

Sabemos que não é fácil dar o pontapé inicial nesse processo e buscar ajuda. Mas não fique sozinho, estamos por aqui para tirar todas as suas dúvidas respeitando o seu tempo.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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