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Aprenda a superar a ressaca moral.

Você já acordou com aquela sensação de que a cabeça vai explodir? Com os olhos tão sensíveis à luz, que mal dava para abrir? Com a boca seca e tanta sede que beberia um rio inteiro? E com uma fraqueza nas pernas que mal conseguia se sustentar de pé? Pois é, você pode até não lembrar com clareza, mas provavelmente você bebeu mais álcool do que seu corpo poderia digerir.

Se você já experimentou essas sensações, então conhece de perto a famosa ressaca física e sabe que ela dificilmente dá o ar da graça sozinha. Não bastasse o mal-estar no corpo, ele costuma vir acompanhado do mal-estar emocional. Estamos falando da ressaca moral, aquele sentimento desagradável, recheado de culpa, que aparece depois daqueles mini flash backs dos excessos do dia anterior. Aquelas atitudes que certamente você não teria se estivesse sóbrio e que agora liberam m certo sabor de arrependimento.

Essa sensação é muito difícil de lidar, não é mesmo? Seja lá qual for o motivo da sua ressaca moral, vamos ajudar você a compreender o que aconteceu. Porque aconteceu. E como lidar com ela através dos seguintes pontos:

• Por onde o álcool passeia no seu organismo e o que faz no seu cérebro?

• Quais são os comportamentos mais associados à ressaca moral?

• Qual a dinâmica da ressaca moral?

• Como lidar com essa onda de sentimentos?

Estes pontos despertaram a sua curiosidade? Então vamos ao primeiro:

Por onde o álcool passeia no seu organismo e o que faz no seu cérebro?

Tudo começa quando a bebida chega ao estômago e começa a ser absorvida pela corrente sanguínea. Em alguns minutos as moléculas começam a ser quebradas pelas enzimas produzidas pelo fígado. A questão é que o fígado não tem grandes reservas dessas enzimas. Isto faz com que as doses, ingeridas em excesso, se transformem em moléculas derivadas do etanol altamente tóxicas circulando pelo corpo.

É uma espécie de envenenamento. O coração aumenta sua frequência de batimentos, a pressão arterial sobe causando náusea, fadiga, dor de cabeça e estômago irritado. Os rins sofrem com a sobrecarga do efeito diurético. A desidratação chega ao cérebro com um efeito depressor do Sistema Nervoso Central. Sabe o que isso quer dizer? Quer dizer que ele aumenta os efeitos dos neurotransmissores conhecidos como GABA, causando aquela sensação de língua enrolada e comportamentos sociais mais ousados. A liberação de serotonina também é aumentada, alterando sensações de prazer e de humor.

Psicologicamente, o efeito pode ser tanto uma sensação intensa de sonolência e relaxamento, quanto uma sensação de euforia que desafia os limites da lógica e da regulação do comportamento aprendido nas relações sociais. Daí, você já pode imaginar, não é? É de onde saem as percepções alteradas, interpretações equivocadas das experiências, levando a conflitos relacionais. Além de que a libido também tende a subir, afetando os relacionamentos amorosos.

Ufa! Que bomba, não é mesmo? Já dá pra imaginar porque a sensação de 12 há 24 horas depois é de que você foi atropelado por um caminhão e parece que ele deu ré! E pode ser que você nem se lembre direito do que viveu por conta da amnésia alcoólica.

Quais são os comportamentos mais associados à ressaca moral?

Agora que você já passeou pelos efeitos do álcool no corpo, está pronto para entender que tipos de comportamentos podem ser estimulados por esse processo e porque eles se tornam vilões no dia seguinte.

Com a diminuição do julgamento, nosso controle inibitório fica prejudicado. Então os comportamentos alterados geralmente são excessos, a começar pelos excessos da própria bebida alcoólica. As sensações de desconforto no corpo no dia seguinte acionam o primeiro pensamento de ressaca moral: “Não deveria ter bebido tanto!”

Um outro comportamento que aciona a ressaca moral é o excesso na fala. Quem nunca falou demais quando estava embriagado? A desinibição parece que liga o botão de ignição da língua. Das ideias para o mundo, sem filtros. É isso que pode acontecer com aquelas ideias que eram apenas um pensamento secreto. E no dia seguinte aparece aquela culpa com letras maiúsculas e os efeitos nas relações interpessoais para gerenciar.

As pessoas alcoolizadas podem revelar seus amores secretos, mesmo que a recíproca não seja verdadeira. Assim como podem expressar suas críticas indiscriminadamente, dando feedbacks sem serem solicitados. Já imaginou que confusão isso pode causar? Isto que nem falamos nos segredos revelados sem consentimentos. Esse tipo de ressaca moral costuma gerar um sofrimento solitário, geralmente associado à vergonha por se sentir indigno.

E não para por aí. A desinibição pode levar a outros comportamentos alterados, como os excessos sexuais. Você já sabe que a ingestão de álcool altera a libido, geralmente para mais, a não ser que a sonolência tenha dominado seu organismo. Isso quer dizer que você se sente mais desinibido tanto para flertar, quanto para explorar a relação sexual com seu parceiro ou parceira.

Já viu onde isto pode dar? O sexo já é um assunto delicado quando se fala em valores morais, agora imagine quando explorado em excesso? Ele pode esbarrar em comportamentos mais delicados ainda, como traição, por exemplo. A sensação de culpa na ressaca moral pode provocar angústia e sofrimento emocional a longo prazo.

Qual a dinâmica da ressaca moral?

Independentemente do comportamento excessivo, o processo da ressaca moral passa por um ciclo que pode ser caracterizado pelo conflito entre como a pessoa se percebe quando age dentro e fora dos seus códigos morais. Uma sensação de prazer por ter vivido o que não teria coragem sem a embriaguez, embrulhada com aquela sensação de que você não deveria ter feito isso.

Assim que se normalizam os níveis dos neurotransmissores GABA e serotonina, já é possível enxergar com mais clareza os efeitos colaterais das escolhas do dia anterior. É quando você se dá conta de que outras pessoas conheceram uma versão sua que você não gostaria que existisse ou, ao menos, que não gostaria que ninguém visse.

É nesse ponto que surgem aquelas dúvidas existenciais famosas: Quando uma pessoa está bêbada, ela faz o que sempre desejou fazer sóbria, mas seus valores morais não permitiriam ou ela jamais faria isso e foi apenas um efeito aleatório do álcool? Bem, de uma coisa temos certeza: os efeitos do álcool não criam uma outra personalidade, então todas essas versões ainda são quem você é hoje.

Essa compreensão é o ponto de partida para começarmos a refletir sobre como lidar com a ressaca moral.

Como lidar com a ressaca moral?

O sentimento de vergonha por ter pagado um grande “mico” e ser o assunto de chacota das pessoas por um tempo, inicialmente é inevitável. Mas a primeira questão para aprender com essa angústia é: se você teve comportamentos que não aprova, talvez precise se afastar por uns instantes dos padrões de “certo versus errado”, “pode versus não pode” e se lançar para compreender a si mesmo de uma forma mais sincera do que a versão que seus valores morais permitem perceber.

Sabe o que essa experiência pode te levar a compreender? Que refletir sobre sua ressaca moral pode servir como uma lupa para ampliar sua percepção de si. Talvez você possa encontrar a chave para liberar você para uma nova atitude diante da vida.

Parece difícil acreditar, mas a ressaca moral pode ser uma experiência de grande aprendizagem sobre você e pode se tornar o princípio de um processo de mudança.

Somos seres em um constante vir a ser. Isso quer dizer que não nascemos prontos, nos transformamos a cada experiência. A cada situação nova descobrimos mais sobre quem somos e quem podemos nos tornar. Como diria Carl Rogers, um renomado psicólogo norteamericano do início do século passado: é isso que dá o caráter dinâmico à nossa personalidade.

Estamos sempre em transformação! Isso pode parecer óbvio para sua lógica, mas quando essa sensação de possibilidade de transformação é experimentada na pele, você pode se apropriar da sua potencialidade para desenvolver novas atitudes diante da vida.

Isso nos leva a considerar que a ressaca moral não será destrutiva se você não tiver uma imagem cristalizada, como se precisasse ser de um mesmo jeito por toda a vida. Então, se você deseja se soltar da sua ressaca moral, reflita sobre esses três pontos:

1. Encare sua experiência como uma oportunidade de aprendizagem e superação.

2. Reconheça quais os aspectos da sua imagem que não combinam mais com você e quais precisam ser atualizados. Tenha coragem! Você não precisa se limitar a nenhum conceito prévio se você já não cabe mais nele.

3. Comunique-se com as pessoas envolvidas. Expresse seus sentimentos. As pessoas costumam ser mais compreensivas do que você imagina. Afinal, estão em transformação como você. E se não te compreenderem, talvez precisem de um tempo a mais, assim como você já precisou.

E não esqueça, se você precisar de ajuda com qualquer um desses aspectos a Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica on-line pode ajudá-lo a encontrar a melhor forma de lidar com sua dificuldade!

Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.

Maira Flôr

Maira Flôr

Psicóloga, CRP 12/08932

10 respostas

  1. Me chamo Yulem
    Precisei ler essa materia falando sobre ressaca moral.
    Passei por isso muito ressente,foi por situação que vivi,sempre bebi muito para sair,descontrair com amigos,mas uma certa noite estava mesmo local que pessoa que vinha me relacionando,dei tanto vexame passei outro dia me sentindo lixo e chorei bastante.
    Mas estou refletindo sobre tudo que aconteceu,pq o pior foi saber que a pessoa viu tudo e fiquei muito preocupada com que ele iria achar de mim.
    Depois de ler aqui a matéria,pensei preciso ficar bem e enfrentar tudo,pedir desculpas aos amigos e superar o que aconteceu,não quero me importar com que pessoa vai ficar pensando,eu reconheço meus erros e quero melhorar.

    1. Olá, Yulem! Muito bom saber que o blog pode contribuir para suas reflexões sobre o que aconteceu em sua experiência pessoal. Poder refletir sobre quem somos nas situações e nos abrir para o processo de superação é bem importante! O primeiro passo já foi dado! Obrigada por compartilhar sua vivência conosco! E lembre-se, se esse sentimento de culpa persistir, uma consulta psicológica pode contribuir para que você encontre novos sentidos para essa emoção. Estaremos por aqui ta? Forte abraço.

    2. Minha situação foi igual, tô um pouco mal mais é isso não quero me importar com oq a pessoa pensa de mim e sim reconhecer meus erros e melhorar!!

      1. Olá, Clara!! Obrigada pelo seu comentário. Que bom que você está conseguindo reconhecer a sua experiência como um processo de crescimento para você! Processos assim nos ajudam a nos conhecer mais e assim, conseguirmos lidar com novas possiblidades! Somos pessoas, viver processos que fogem do nosso controle faz parte! Mas usar da experiência para aprendermos é fundamental! Conte conosco nesse processo! Forte abraço!

  2. Obrigada pelo conteúdo, estava passando por umas turbulências internas e acabei passando do ponto com a bebida e expressei tudo em uma mesa de bar, tenho uma microempresa e o meu medo é alguma cliente minha ter visto todo o show. O que eu fiz me representa, são as minhas revoltas, fico um pouco agressiva mas tudo que eu disse sou eu. Não me envergonho das falas, mas de outras coisas que fiz, vou tentar ressignificar tudo que houve.

      1. Esse foi bem apropriado para mim, ontem bebi muito com amigos em casa, e mais uma vez passei do ponto, infelizmente não é a primeira vez, hoje acordei péssima para trabalhar, e ouvido absurdos do meu marido, que não bebê, estou envergonhada, com raiva de mim mesma.

        1. Olá, Katia! Obrigada pelo seu comentário, sei que falar o que sentimos não é fácil! Espero que o blog tenha ajudado você a lidar um pouco com essas emoções de raiva e vergonha! Caso queira agendar uma consulta com psicólogo, pode ser importante para que você consiga encontrar uma nova saída para lidar com esses sentimentos!
          Estaremos por aqui! Forte abraço

  3. Passei por uma episódio de muita ressaca moral.
    E o pior está sendo o conflito do que eu fiz e do que os outros interpretaram. Será que foi tudo isso mesmo ou estão só colocando mais fatos.
    A minha concepção dos fatos, é diferente pra uma parcela das pessoas.
    O mais conflitante está sendo o que farei agora.
    Tudo ocorreu no condomínio onde moro, com as pessoas que me conhecem, lugar novo, porém não irei me mudar tão cedo.
    Acho que não fui bem interpretada, porém sei que passei muito dos limites.
    Aprendi muito com isso. Sou uma pessoa um pouco radical, já quero cortar total laço com as pessoas, mas não posso, pois tenho 2 filhas e essas pessoas fazem parte do meio social delas.
    A princípio irei me afastar, sem forçar a barra. Me aceita quem quiser. Tenho a sensação que outra pessoa entrou no meu lugar e fez tudo isso. Mas enfim, espero que algum dia a vida volte ao normal

    1. Olá, Amanda! Muito obrigada por compartilhar sua experiência, ela pode contribuir com outras pessoas que também já viveram algo parecido! Que bom que você consegue olhar para a experiência e reconhecer suas aprendizagens. Isso é fundamental, para conseguirmos encontrar saídas que nos auxiliem em nosso desenvolvimento. E caso queira um espaço para conversar sobre as suas emoções. Conte conosco nesse processo! Forte abraço

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