Blog do Espaço

O que o CORINGA nos ensina sobre a loucura?

Neste fim de semana assistimos ao Coringa (Jocker), filme do diretor Todd Phillips. Se a primeira imagem que lhe vem à cabeça é a do tradicional vilão dos quadrinhos, inimigo do Batman, esquece! Porque chegou a hora de compreender a gênese do seu funcionamento psíquico. Isto mesmo! O filme é uma produção impactante, capaz de inverter a lógica comum, de nos colocar cara a cara com a loucura e de nos chamar atenção para a semana do Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro). Vamos nessa?

Mas, antes de mais nada, aí vai um alerta de spoiler! Se você quer assistir ao filme primeiro, aperte um pause na sua leitura, estaremos aqui esperando sua volta. E se você estiver pronto para iniciar a leitura, vamos adiante, temos muitas reflexões para fazer juntos.

No filme, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um homem que convive com sofrimento mental evidenciado nas crises de riso involuntárias e incontroláveis. Seu sonho era ser comediante de stand up e um dia participar do talk show do apresentador Murray Franklin (Robert DeNiro), mas sua realidade está muito distante disso. Ele vive cuidando de sua mãe em uma condição socioeconômica precária e um trabalho de palhaço que o expõe a situações de violência constantes. Não bastasse isto, sua mãe é fixada em Thomas Wayne, o poderoso homem de negócios e político de Gothan, pai de Bruce Wayne, que no futuro se transformará no Batman.

Eis o cenário que perturba a estabilidade emocional de Arthur. No decorrer do filme, ele passa por uma sequência de violências, exclusões e preconceitos tão perturbadores e agoniantes, que chega a ponto de levar os expectadores a empatizarem-se com ele quando comete um assassinato triplo, à queima-roupa, enquanto sofria mais uma violência. Nossa! Um retrato fiel de aonde o humano é capaz de chegar, quando está com a sua saúde mental abalada. Assustador, não é mesmo?! Afinal, uma atitude como essa liberta um campo de possibilidades difícil de domar.

É assim que, pouco a pouco, vamos experimentando suas sensações e vendo nascer os trejeitos, as expressões e as escolhas de uma loucura que se constrói fundamentada em uma lógica própria, perfeitamente compreensível. Ufa! Não é à toa que o filme tem classificação indicativa de 18 anos. É mesmo muito intenso interagir com as sensações e os sentimentos que o enredo nos desperta. O filme é realmente capaz de gerar medo nos expectadores.

E de onde vem tanto medo? Para alguns vem da possibilidade de existir um Coringa no meio de nós, sem que se tenha a menor noção disso. Enquanto que para outros, vem da possibilidade de enlouquecer, pelo simples fato de ser tão humano quanto o Coringa. E ainda há aqueles que, entorpecidos pela visão drástica do nascimento da loucura e dos inúmeros fatores de riscos, passam em revista a realidade social de hoje e reconhecem a sociedade atual como berço esplêndido da loucura.

Muitas cenas do filme retratam atitudes de personagens que desconhecem ou desconsideram a fragilidade da saúde mental de Arthur e esperam que ele tenha atitudes de pessoas com saúde mental estável. Isso é sentido por ele que reconhece “a pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse”. E no final, os inúmeros comentários, gestos e expressões, somados à história de sofrimento psíquico intenso, contribuíram para a concretização da loucura.

A gênese da loucura do Coringa nos fez pensar sobre as nossas atitudes com as pessoas que estão ao nosso redor e nos perguntarmos: Até que ponto, em nome do caos social, econômico e político, estamos passando às cegas pelas nossas relações sociais? Ainda somos donos das nossas atitudes e ainda temos potencial para construir relações mais humanas? Afinal, em meio às nossas peculiaridades, estamos todos tentando construir os humanos que existem dentro de nós.

Polaridades não dão mais conta da nossa realidade. Nem sempre uma risada significa alegria; nem sempre uma expressão de sofrimento significa vulnerabilidade; nem sempre o que você vê corresponde à realidade. E, por mais que a liberdade da loucura possa ser atraente e, muitas vezes, pareça a única alternativa, o contato e a conexão humana continuam sendo um caminho possível e potente para promover saúde mental.

Por isso, não se esqueça! “Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferente do que se pensa, e perceber diferente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir”. (Foucault)

Se você ou alguém que você conhece quiser a nossa ajuda para cuidar da saúde mental ou perceber diferente do que se vê, a Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica on-line são caminhos possíveis!

Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.

Anita Bacellar

Anita Bacellar

Responsável Técnica, CRP 12/01329

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados:
Saúde Mental

Você tem medo de quê?

Esta semana, preenchi a data em um documento de trabalho, como sempre faço, mas desta vez aquela data significava algo diferente, era exatamente a metade

Ler Mais »
Assine a Newsletter do Espaço!

Compartilhe: