Blog do Espaço

Quando chega a hora de dizer adeus

Hoje eu sonhei que meu filho mais velho havia morrido. Acordei com aquela sensação que muitos de nós conhecem e que só aparece quando perdemos algo ou alguém que amamos. Acredito que não será ousadia afirmar que você sabe do que eu estou falando. Afinal, os últimos acontecimentos têm nos mostrado como é difícil perder uma pessoa querida de forma súbita, inoportuna e intempestiva.

É! Em frações de segundo nosso corpo é tomado por uma sensação de medo assustadora, que nos faz querer fugir e desejar que as vivências sejam apenas um pesadelo que logo chegará ao fim.

Para o meu alívio, mesmo que momentâneo, o que estava acontecendo comigo era mesmo apenas um sonho. E digo isso, porque sei que tal realidade não me livra, e não livra ninguém, de passar pela dor de perder algo ou alguém de forma súbita e inesperada. Infelizmente, perder não é uma possibilidade, é uma certeza que estará presente de diferentes formas e em diferentes contextos de todas as fases da nossa vida.

Sim! O que eu estava vivendo era um sonho, mas as sensações eram verdadeiras. Elas realmente podem ser consideradas como representação da dor que se sente quando perdemos algo ou alguém muito querido. E por que eu tenho tanta certeza disso? Porque eu já perdi, assim como você, muitas pessoas e conquistas pessoais, ao longo dessa caminhada que chamamos de vida.

Ainda sou capaz de sentir o sofrimento de ter jogado longe a minha chupeta em um momento de raiva e nunca mais ter tido a possibilidade de colocá-la na boca, mesmo sem ter guardado na memória as cenas desse momento.

Ainda consigo reviver a tristeza de ver meu cachorro, tão sonhado, indo embora no mesmo dia da sua chegada, porque o local que morava não era apropriado para cachorros.

Ainda sou capaz de reconhecer o sofrimento de ter perdido uma amiga muito querida, um namorado muito amado, um trabalho que me ajudou a crescer, um empreendimento muito sonhado e, por fim, meu pai.

Tenho certeza que eu e você poderíamos escrever páginas e mais páginas sobre as perdas da vida. Mas, há alguns anos, descobri que isso não nos leva a lugar nenhum.

O que realmente faz a diferença é a forma como enfrentamos o sofrimento que as perdas nos geram. É isso mesmo! Não podemos controlar o que ou quem iremos perder, mas podemos escolher como iremos viver depois que perdermos.

Vejo duas saídas:

  1. 1) Podemos viver mergulhados na dor ou fingindo que ela não existe e nunca existiu ou
  2. 2) Escolhemos viver intensamente cada etapa da dor para nos despedirmos do que não existe mais.

Já faz um tempo que eu entendi que viver mergulhada na dor ou fingindo que nada era nada não me levava a lugar nenhum. Foi aí que eu decidi olhar de frente para as minhas perdas e buscar o que existia do outro lado da dor.

E sabem o que eu descobri? Que se nos largarmos para viver essa experiência passaremos por alguns momentos evolutivos:

  1. Inicialmente precisaremos ajudar a nossa consciência/razão/cognição a acostumar-se com o fato de que não viveremos mais novas experiências com a pessoa, objeto ou circunstância perdida. E é o convívio com a essa dor que nos preparará para o próximo passo.
  2. Agora chegou a vez de ajudar as nossas sensações. Elas precisarão entender que não viveremos novas experiências sensoriais com o ente querido. Nossa visão nunca mais verá a pessoa, o objeto ou a circunstância; não sentirá mais seu cheiro e nem o seu toque. E, mais uma vez, de tanto vivermos a experiência da ausência, ficaremos prontos para a próxima etapa.
  3. Bem! Agora o que nos resta é só tristeza, porque, pela primeira vez, ficamos sozinhos com a nossa dor. Porque, enfim, a verdade foi soberana a ponto de compreendermos afetivamente que não tem volta. Essa é a despedida para ser vivida de você com você. Saber que existem pessoas ao nosso lado é importante, mas precisamos fazer esse percurso sozinhos. Não tenha medo. Ele te mostrará o que você precisa fazer para retomar o caminho de volta para a sua vida.
  4. Aos poucos, vamos descobrindo que não se perde quem amamos. O que perdemos de fato são os novos momentos. Não teremos mais novos abraços, novos sorrisos, novas discussões e novos passeios. Mas teremos as lembranças dos velhos abraços, do sorriso eterno e dos passeios inesquecíveis. Serão essas lembranças que nos farão perceber que valeu a pena. Valeu tão a pena que valerá a pena continuar buscando novos abraços, novos sorrisos, novos passeios, novas aventuras.

Quer aprender a fazer isso? Tenho três caminhos para você:

  1. – Você pode escolher fazer essa caminhada com os seus apoios sociais;
  2. – Você pode conquistar essa aprendizagem utilizando o serviço de psicoterapia do luto; e/ou
  3. – Você pode fazer a sua caminhada enquanto se prepara para ajudar outras pessoas a fazerem esse percurso através do curso luto: teoria e suas aplicações.

Qual a sua preferência?

Leia mais:

“Essa história não pode acabar em cinzas”

Anita Bacellar

Anita Bacellar

Responsável Técnica, CRP 12/01329

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados:
Assine a Newsletter do Espaço!

Compartilhe: