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Decifrando a dislexia

“Quando leio, somente escuto o que estou lendo

e sou incapaz de lembrar da imagem visual da palavra escrita”

Albert Einstein

Você consegue ler e entender o que está escrito na frase abaixo?

“Vsaom3nbenrt a blsi3xai”.

Então, conseguiu? Se não, vamos tentar mais uma vez?

“Vsaom3nbenrt a blsi3xai”.

Ainda não?

Tente ler, em voz alta, o mais rápido que você puder, essa outra frase:

“Trazei três pratos de trigo para três tigres tristes comerem”.

Difícil, não é?

Agora imagine se tudo que você lesse fosse assim, difícil de entender ou de pronunciar. Andar pelas ruas da cidade sem conseguir localizar-se pelas placas, ir a um restaurante e não entender o cardápio… E na escola? Como seria se você não conseguisse acompanhar as orientações da professora, ler o que está no quadro e ainda escrever no seu caderno!

Essa é a realidade dos 17% das pessoas com Dislexia. Não é pouco comum elas escutarem as pessoas dizerem: “Vamos lá, deixe essa preguiça de lado!” “Só não aprende quem não se esforça!”. Puxa! Mas nada disso tem a ver com nível de inteligência ou falta de esforço! E sabem por quê?

Nossa habilidade para ler e escrever começa a ser lapidada quando aprendemos a falar. Crescemos escutando o nome das coisas e aos poucos associamos os sons aos objetos. Depois descobrimos que tudo o que falamos pode ser desenhado no papel. São as letras, que juntas formam sílabas e palavras. Só então associamos a grafia ao som de um objeto.

Infelizmente, essas aprendizagens não são suficientes para aprendermos a ler e escrever. O significado de cada palavra ainda precisa ser associado à gramática correta e há a semântica da construção das frases. Só assim compreenderemos o contexto de um texto.

Percebem a complexidade desse processo? Pois é! E quem gerencia tudo isso é o cérebro. Estudos recentes mostram que alterações celulares e anatômicas na formação do cérebro fazem com que o hemisfério esquerdo fique com um tamanho igual ou menor que o direito, dificultando o processo de leitura das palavras e a relação existente entre a escrita e a fala. E quando a aprendizagem é da língua portuguesa, tudo fica mais difícil. Afinal, precisamos entender, por exemplo, que “quente” se fala de um jeito diferente de “frequente”; expressar ideias de forma coerente; captar e reter detalhes de uma história; aprender rimas e música; lembrar sequências numéricas e aprender a reconhecer as horas.

Ufa! Parece um mundo de muitas dificuldades, não é mesmo? Mas isso é verdadeiro apenas quando as aprendizagens envolvem o ato de ler. O que dizer de pessoas como Einstein, Da Vinci, Walt Disney, Keanu Reeves. Todos disléxicos! Que tiveram a possibilidade de desenvolver seus potenciais artísticos e/ou científicos. E tudo isso, sem falar que não é pouco comum que eles apresentem habilidades nas relações sociais e uma sensibilidade aguçada.

Estar ao lado de uma pessoa com dislexia, que aprendeu a lidar com o seu próprio jeito, pode significar sentir-se compreendido e acolhido, não pelo mundo das ideias, mas pelo mundo das sensações. Des“enrolando a língua” ou não, podemos descobrir inúmeros jeitos funcionais de existir.

Leia mais: “O poder do processo de aprender”.

Confira o documentário: “Viagem dentro da dislexia”.

Anita Bacellar

Anita Bacellar

Responsável Técnica, CRP 12/01329

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