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O poder do processo de aprender

Já faz alguns anos que tenho me dedicado a entrar no mundo da aprendizagem e suas dificuldades, e me encanto a cada dia com a forma como o ser humano aprende e as suas diversas formas de funcionar quanto a isso.

Essa semana quis dividir um pouco do que penso e vivo sobre o assunto com vocês, pois 16 novembro é o Dia Nacional da Dislexia, um dos transtornos de aprendizagem. Pesquisando um pouco sobre o assunto, me surpreendi com alguns dados: segundo o governo brasileiro, cerca de 5% da população sofre com o problema e em 2016 a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou que somos o segundo pior país em nível de aprendizagem. Com esses dados, fiquei pensando nas crianças que estão passando pelo processo de escolarização e têm dificuldades de aprendizagem.

Você sabe como identificar quando alguém está passando por isso? Quando falamos de criança, precisamos sempre começar pelo reconhecimento do contexto em que ela vive: sua realidade familiar, social e afetiva para perceber o quanto questões externas podem prejudicar o seu desenvolvimento, criando obstáculos para o processo de aprendizagem. Isso sem esquecer que o método escolar às vezes pode não ser o mais adequado àquele estudante especificamente. Tudo isso para nos lembrar o quanto condições facilitadoras influenciam em qualquer processo de aprendizagem.

Mas quando não existem causas externas, nos deparamos com os transtornos de aprendizagem, que são modos neuropsicológicos de funcionamento de cada pessoa, através dos quais ela pode apresentar dificuldades para aprender. Eles geralmente são percebidos no período escolar, quando a criança passa pelo processo de alfabetização, pois influenciam nessa aprendizagem. São vários os tipos de transtornos, mas dentre os mais conhecidos estão a dislexia, a discalculia, a disgrafia, a dislalia, o déficit de atenção e a hiperatividade.

Esses transtornos afetam a evolução para aprender a ler, escrever, lidar com números, falar, orientar-se no espaço e no tempo e permanecer atento nos momentos de estudo, entre outras características. Por isso, é fundamental que os pais e profissionais que acompanham as crianças e verificam algum problema possam buscar especialistas para identificar qual a melhor forma de ensinar e fazer o acompanhamento necessário o mais rápido possível. Isso garante que a criança não sofra desnecessariamente durante sua vida, aflição que pode levar até a vida adulta.

Na prática clínica e na convivência com as pessoas, percebo o quanto é sofrido passar por dificuldades de aprendizagem que não são vistas ou entendidas. As pessoas passam por pressões externas e internas e se sentem impotentes, deixando de reconhecer suas habilidades por não conseguirem desenvolver processos de aprendizagens que se esperam delas e que de fato são importantes para o dia a dia.

Exigir de uma criança mais do que ela consegue fazer sem compreender sua forma de funcionar pode provocar muita vergonha, diminuindo sua autoestima e causando isolamento. Ela passa a desacreditar de si mesma, pode ter grande dificuldade para se relacionar com os amigos e o mundo, acreditando que ela mesma é o problema. Esses sentimentos são apresentados no filme ”Como estrelas na terra” (https://www.youtube.com/watch?v=xLJMDzmkezY) sobre um menino de 9 anos com dislexia, que passa por um processo de solidão até alguém compreendê-lo, reconhecendo a pessoa que ele é.

Costumamos querer que as pessoas se encaixem nos padrões e esquecemos de olhar quem elas são, suas condições, o que vivem e se dão conta. Tenho aprendido que viver com nossos limites, sabendo deles sem julgamentos, me dá condições de buscar ajuda para superá-los e usar o que somos da melhor forma possível. Percebo o quanto pais de filhos com dificuldades de aprendizagem e também adolescentes e adultos, ao compreenderem seu jeito de funcionar, conseguem sentir alívio por se entenderem, e buscam a forma mais eficaz de lidar com seus limites, deixando de ser o que não conseguem para serem os que lidam com quem são.

Hoje, para mim, viver o aprendizado com meus limites e facilitar o processo para crianças e adolescentes tem me ensinado o quanto somos diversos. O ser humano tem suas diversas formas de ser! E se soubermos usar o conhecimento de quem somos, podemos ir muito longe, cada um do seu jeito, dentro da realidade pessoal de cada um. A proximidade com os jovens para perceber seus limites nos fará sentir suas dificuldades e dará condições para que possam se desenvolver no máximo de suas possibilidades. Eu acredito na potência de todos para aprender ao máximo quando reconhecemos nossos limites, e você?

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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