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Agosto a meu gosto

Dizem que o mês de agosto é o mês do desgosto, e em 2017 isso me chamou a atenção mais do que nos outros anos; acredito que escutei mais pessoas falarem sobre um péssimo período.

Por curiosidade, fui descobrir se essa expressão devia-se ao trocadilho com o nome, ou havia alguma história por trás. E há muitas histórias, sabiam? Por exemplo, as mulheres portuguesas não casavam no mês de agosto, pois era época em que os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Então, casar em agosto significava ficar só, sem lua de mel e, às vezes, até mesmo viúva, crença essa que foi trazida para o Brasil pelos portugueses. Li também que muitos acontecimentos considerados ruins na história do mundo, relacionados a guerras e tragédias, aconteceram em agosto.

Enquanto lia, pensava o quanto todos esses acontecimentos são histórias passadas. E essas histórias transformam-se em superstições, algo em que acreditamos, que tomamos como verdades e que podem nos acontecer. Assim, colocamos muitas causas do que nos atinge no que é exterior a nós e ao que fazemos. Mas com o que eu contribuo para que tudo aconteça no meu mês? Bom, continuei na pesquisa sobre o mês de agosto até me deparar com a seguinte afirmativa: o mês de agosto traz à tona tudo aquilo que foi semeado nos últimos tempos.

Apesar de ser mais uma superstição, essa afirmação traz algo que venho refletindo: não é do que acontece externamente que vem a causa do que vivo, mas do que eu mesma planto na minha vida. E me fez me perguntar: o que colhi no mês de agosto? E então percebi que, na verdade, continuei plantando, que essa plantação acontecia dentro de mim e que colhi imediatamente a cada esforço que fazia. Mas não foi sempre assim, eu precisei aprender a semear e foi um processo bastante intenso…

Para plantarmos, precisamos de terra fértil. E aprendi que a terra fértil, no processo de semear a vida, está relacionada a abrir todas as portas do que somos para nos relacionarmos com a vida que acontece ao nosso redor. Não é fácil percebermos o que está além do que enxergamos, por isso as pessoas nos ajudam a nos vermos e ao nosso interior. Isso quer dizer aprender a receber feedbacks. Você sabe o que é feedback? É receber do outro o que ele vê e sente em relação a você. Parece fácil, mas para que seja útil, precisa de abertura para receber e total certeza de que ele não define quem eu sou e muito menos me destrói, mas com certeza é um presente para que eu possa me enxergar melhor e no mínimo saber como o outro me vê. Quanto mais abertos ao feedback estamos, mais chance teremos da terra ficar rica em sais minerais.

Para plantarmos, precisamos de condições facilitadoras. Ao nosso redor temos sempre possibilidades de receber retornos das nossas relações, cada uma do seu jeitinho. Para isso, precisamos estar disponíveis conosco e com as relações ao nosso redor. São as relações que facilitam para que possamos nos enxergar e criar sais minerais na nossa terra.

Para plantarmos, precisamos saber qual a nossa semente. O que eu planto? O que eu sou? Não adianta eu querer ser morango quando, na verdade, sou jaca. O autoconhecimento do que gostaria de ser e do que sou de verdade, faz com que eu consiga fazer a plantação do meu jeito. De um jeito que fique gostoso para mim. Que eu plante e colha.

Senti-me assim agora, em agosto, percebendo que quando atribuímos a causas externas o que acontece nas nossas plantações, colhe-se o que de fato não gostaríamos, mas se assumimos a responsabilidade da nossa terra, da nossa semente e usamos as condições do ambiente, colhemos o que faz sentido ser.

Agosto, setembro e todos os meses precisam da sua coragem e do seu esforço de escolher o que viver e o que fazer consigo mesmo. Eu escolho plantar com minhas sementes da melhor forma possível, e você?

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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